domingo, 16 de outubro de 2011

A hora invertida no espelho,
o espelho na parede azul
minha janela fechada
tua cara na estante
meu livro aberto
teu riso espalhado pelo quarto
meu armário em desalinho
teus olhos sobre meus ombros
minhas mãos abrindo a porta
teus pés caminhando para a noite
meu corpo dormindo
tu apagas a luz
a janela se abre
a porta se fecha
não mais ouço teu riso;
e porque a noite me faz ver o quanto estou e sou
 sozinho,


deixo-me rir...
...rir até que o som do teu silêncio me acorde,
suave e docemente,
do meu sonho de estar e me esconder dentro de mim...
Luiz Dutra - outubro/2011
A cor,
a flor
as mãos..
              Teus olhos
               teu riso
               meu universo
inteiro...
Tudo isto dentro 
e fora
neste agora que se eterniza no brilho do teu olhar...
Luiz Dutra - outubro/2011
Bates à porta,
abro-a eu...
caminhas tranquilamente,
sentas,
pensas
e antes de falares qualquer coisa outra,
abro meus olhos para que contemples,
no silêncio da hora que passa,
tua face desenhada na paisagem dos pensamentos meus...
...e ris,
e silenciosamente te ocultas das horas,
que passam,
para eternizares em ti
aquilo que desconheço
e chamo apenas paisagem,
que guardei,
enfim,
apenas e tão somente para ti...
Luiz Dutra - outubro/2011

sábado, 15 de outubro de 2011

Presa no espelho
retida face
que me olha
e vê o dentro
do centro de onde sai;
Às vezes solta risos,
não aquela,
então a outra que estranho fora
noutras horas fala das coisas,
coisas que apenas ela conhece
porque existem apenas onde habita a refletida face,
não a face que a reflete.
Entre eu e ela,
face,
esconde-se o espelho
e entre o espelho  e a outra face,
a minha face encoberta pelos olhos,
olhos meus que não aprenderam a ver,
com os olhos que ali refletem,
a face que se deixa refletir...
...Quando então nos ausentamos,
resta ao espelho refletir o relógio e suas loucas horas,
estático por fora...
...mas em eterno movimento no seu dentro...
Luiz Dutra - outubro/2011
A parede pendurada no relógio,
as horas passeando pelo quarto
o quinto elemento
a essência
e as substâncias que me formam
formam outros eus que desconheço...
...e desço outras escadas,
penduro o coração na rosa parede
                                                   as horas,
                                                   o relógio
                                                   a ilógica lógica
os sinos tocando
alguém que grita no escuro
enquanto adentro o fora de ordem das horas que me formam...
...enquanto aprisiono,
nas mãos fechadamente minhas,
a dança,
o salão
a música que já não ouço,
dentro do badalar dos intranquilos giros do relógio dentro deste universo-eu...
...e volto a realidade pelas escadas dos sonhos teus...
Luiz Dutra - outubro/2011
Ser
     nascer
              estar
e desembrulhar-se
                           dos seres que em mim nascem
quando apenas estou
                               sem existir...
Luiz Dutra - outubro/2011
No tempo da distância,
aproximo-me
redijo cartas vãs
grito meu silêncio
num sentido ocultamente óbvio
e oculto do tempo os ponteiros...
No tempo da presença,
disperso-me
rasgo os pensamentos
silencio meu grito
num sentido claramente confuso...
...recoloco os ponteiros
e me deixo aprisionar no círculo interminável
                                                                  dos tics de ser
                                                                  buscando os tacs para existir...
Luiz Dutra - outubro/2011

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Retiro o relógio da alma,
a calma esvoaça pelo reduto-quarto
                                                      o quarto se faz pequeno,
                                                       o tempo desaparece...
...o relógio pendurado na cama,
a calma guardada no bolso...
...e porque há furo no bolso
escorro
e me escondo na janela de ver o dia passar...
Luiz Dutra - outubro/2011
Deito meu corpo delirante
e deliro ardente dentro da noite
piso nas horas mortas,
assalto o relógio antigo
e roubo as horas novas
e novamente me espanto
                    abro a porta do corpo,
saio silenciosamente
                              tudo posso ver
                              tudo posso tocar
                              tudo já não está
e porque também já não estou,
explodo num céu de cores
com as cores que não existem...
Luiz Dutra - outubro/2011
A sombra,
o sol
a noite germinando dentro do dia
e o dia se pendurando na minha janela...
Espio,
sinto tua presença
e fecho a janela..
...a sombra desaparece,
a noite brota e estica seus galhos de amanhãs...
...e novas manhãs fazem sombra
sob a sombra que já não mais estás...
Luiz Dutra - outubro/2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Dispo-me,
viro-me do avesso,
encolho meu corpo
atravesso teu riso
diviso
         grito
         e
         silêncio
solto as amarras da alma
e nu,
volto para dentro do corpo que só eu conheço..
...então adormeço,
esqueço
e danço no imenso salão,
solto das mãos as lembranças-balões
enquanto meus braços abraçam o som
o silêncio
e o vento que faz rodopiar meus pensamentos...
...e porque já tonto,
adentro o antigo
o novo
e o ainda desconhecido mesmo corpo...
Luiz Dutra - outubro/2011
A tarde adormecida,
a ida
a volta
os retalhos da velha roupa pelo chão
e a nova pendurada nos ponteiros do relógio que não uso.
A tarde,
o sono
o sino tocando
o coração pulsando
os braços abertos aos ventos
e os ponteiros da tarde parados dentro do círculo de igualdades...
Adormecida vida,
a idade avançada
o sinal aceso
os veículos parados
o apito ecoando
e eu dando corda no velho relógio...
O som,
o sono
o estar
o desperto
o dormido
o andar
o dentro 
o fora
o tudo neste eterno agora
e hora nova assoma-se
e some para dentro do velho relógio,
relógio que o sono não me permite mais ver...
Luiz Dutra - outubro/2011

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Alma fria,
corpo quente
vida ausente...
...delírios...
...roucos gritos-dentro,
sonhos e pensamentos...
...misturados,
vindos do distante,
ferindo o corpo,
adormecendo a alma
nesta calma febre ardente...
Luiz Dutra - outubro/2011

sábado, 8 de outubro de 2011

Meu corpo é velho,
minh'alma é nova;
Disfarço
e maldigo
meu dia tão novo...
Meu,
quase corpo que uso...,
                                  disfarço
                                  faço-me
                                 assomo-me ao que existe na memória minha...
Velho,
          disfarece,
                        milagres que não creio
Minh'alma,
nova
inteira
e sempre minha,
Assim como sempre,
no nunca inexistente,
acontecem de saber-se de mim...
 E reconheço:
Ainda não sou a sombra de mesmo alma minha...
...embora seja simplesmente
a alma minha...
que eu desconheço
Luiz Dutra - outubro/2011
Minh'alma negra,
suja e farta
farta-se da minha sujeira-agora...
Dispo-me de todas,
e todas as horas são sempre as mesmas...
Hoje a tarde foi cinza,
ontem foi nobre,
outros tem sido...
apenas isto....
Minh'alma,
minha negra memória,
minh'alma....
se suja,
se farta,
se retém,
se busca...
...e na busca se descobre diferente,
diferente do que sabe,
agora....
...embora minh'alma ainda seja,
improvavelmente minha.,..
Luiz Dutra- outubro/2011

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A hora se forma,
os ponteiros reiniciam a caminhada
                                  os caminhos são outros,
                                  são outras histórias
                                  serão outros momentos,
                                  outras paisagens,
                                  outros olhares,
                                  outro ver
                                  outro entender
                                  outras e tantas coisas sempre novas...
...apenas os velhos ponteiros percorrem o pequeno espaço chamado relógio,
iludindo-o que o uma vez percorrido,
incansavelmente será repetido...
...E nasce mais uma outra hora no velho relógio...
Luiz Dutra - outubro/2011
Silencio,
o sol lá fora,
a tarde que passa
e meus passos calados percorrem a casa...
Silêncio,
luminosidade extra-eu,
e eu sentado sobre a memória,
tentando,
de alguma forma,
arrumar na prateleira dos tempos idos,
os livros que nunca terminei de ler...
O vento surge,
a janela se abre
e se abre em mim a vontade de reler,
reler o livro que embora já tenha lido,
não consegui entender
                                o início,
                                o meio
                                o fim...
retiro no chão então o tal livro,
abro a primeira página,
e me vem a lembrança 
                                pessoas,
                                lugares,
                               paisagens,
                               palavras
e o imenso salão onde o principal personagem,
sozinho, 
no sono do sonho,
permanece por tempos sem fim
a dançar...
...E ainda continua,
no mesmo salão;
agora já não mais dança,
espreita pela janela,
esperando alguém que prendeu dentro de si
e mesmo querendo,
não o pode na dança o acompanhar...
Luiz Dutra - outubro/2011

terça-feira, 4 de outubro de 2011

tu me carregas,
o vento te leva
                     o sol ilumina
                     a lágrima surge
a chuva se anuncia
o tempo escorre
 a alma transcende
                           tu,
                           eu,
                           vento
                           sol
                           lágrimas
                           chuva
                           tempo
                           alma
Damo-nos as mãos,
sorrimos
e então guardamos os livros lidos na estante da vida
para juntos apreciarmos o voar das nossas lembranças-passarinhos...
Luiz Dutra - outubro/2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

No monte onde meu ausento,
sentas sobre o que restou...
Estou além do corpo
e teu corpo se disfarça
e se torna mapa...
e porque  me tornei perdido,
no meio de tantos iguais,
coloco meus olhos sobre o mapa
e tento,
enquanto não o retiras do ver,
                                            encontrar algum sentido
                                            naquilo que sem querer,
                                            ou simplesmente imaginar,
                                            em  mim tu fizeste nascer...
E justamente quando,
e porque nasceu,

este  neo-nefasto (in)desejável desejo,
foi justa
esimplesmente neste momento que resvalei e me perdi..
...e tento me achar dentro do mapa,
mapa do teu olhar...
Luiz Dutra - outubro/2011
Meus olhos te cruzam,
tu cruzas outros olhares
então, disfarço
                     e faço normal aquele olhar...
Meus olhos insistem,
                               a face,
                               os braços,
                               as pernas
                               ............
Teus olhos invadem  meu espaço-teu
e porque já não sei o que faço,
desfaço
            a rota
e rasgo por dentro a roupa que a vida insiste que eu vista por fora...
...fecho meus olhos,
colo meu rosto na velha vidraça
e mesmo sem ver,
                          volto sem querer a jogar sobre tu,
meu fechado olhar...
                              tu já não te importas,
a porta se abre e tu saltas...
Juiz Dutra - outubro/2011
Tuas palavras,
                      minha boca
tua cara
meus olhos
minhas mãos prendem o pássaro
tuas mãos desenham o céu azul
e as palavras perdem o sentido
e o sentido de tudo é apenas
                                            as mãos,
                                            o pássaro
                                            o céu,
                                            e nós,
                                            mergulhados neste imenso azul...
Luiz Dutra - outubro/2011
A guerra lá,
minhas noites de insonia
tua foto no porta retrato
o jardim sem flor
beija flor
borboletas
céu azul
silencio...
...e a criança corre procurando abrigo...
...enquanto alguém dispara mais uma bomba em nome da paz.
Luiz Dutra - outubro/2011

domingo, 2 de outubro de 2011

Esqueço,
             lembro,
                        uso,
                             finjo,
                                   anseio,
                                            aguardo
                                                        e
                                                         guardo
                                                                   no lembrar
                                                                                  o anseio
                                                                                             de esquecer...
                                                   ...E deito nas lembranças..
                                                   ...desejando despertar...
                                                                                      ... até adormecer...
Luiz Dutra - outubro/2011
O cão late,
a lua boia no céu
o balão solta da mão
o gato mia
meu olho te mira
a rua segue
enquanto sigo tuas pegadas
                                        no início desta caminhada
...agora que tento por meus pés da nova rua...
...que segue para ti
                            pelos caminhos que existem dentro de eu...
Luiz Dutra - outubro/2011
Durmo,
acordo e liberto a noite há tempos presa
e torno-me presa do dia que transcorre...
Sou lua que vaga no silencioso céu
sou caos
            e paz
            e guerra
            acordo e desacordo
Durmo,
preso as esmagadoras amarras de um ontem mal vivido,
envolto em asas que já não mais batem...
                                                             Sou absurdo
                                                             sou mudo
                                                             e nulo..
Levanto dentro de eu o mesmo
e mesmo distante de ser o outro,
prendo-me à caneta que se move libertadora...
                                                                   E sou liberto....
                                                                   E bato as asas pensantes
para transferir-me para a distancia de ontens
                                                          amanhãs
                                                          deixando restar apenas esse eterno agora.
Agora que então durmo...
Luiz Dutra - outubro/2011
                                                              
Um anjo canta,
um velho chora,
a criança grita
a morte passeia
e os pregos da cruz no chão caindo...
                                                                braço sem abraço,
                                                                olhos sem ter o que ver,
                                                                lua sem céu
                                                               estrela sem pontas
                                                               sem brilho..      
Tarde sem chá,
manhã sem sol,
poesia sem rima
estrada sem luz
a morte do dia...
                         O anjo que voa
                         alguém que espia,
                         o corpo saindo da cruz,
                         o silêncio se rindo
                         a noite dentro do dia...
                         tudo dormindo...
E o velho,
               tudo isso guardando,
              dentro do sono que chega...
Luiz Dutra - outubro/2011
                       
                     

CONTO 0004 : LER E CRER - HORÓSCOPO.

Ele acordou atrasado, enfiou-se rapidamente embaixo do chuveiro, tomou banho, escovou os dentes e saiu dando o nó na gravata. Pôs a água na cafeteira e enquanto esperava sentou-se na cadeira da cozinha. Pegou o jornal, abrindo na página de horóscopo e leu o seu :
" Dia de muitas surpresas e muita sorte, fique atento e não deixe passara as oportunidades que surgirão, pois além  de muita sorte, o sol, que entra na sua casa astral lhe garante a possibilidade de encontrar sua tão esperada alma gêmea." 
Ele acreditou no que lerá, e levantou-se enchendo uma xícara de café e após  dar alguns goles, saiu apressado...
Faltavam poucos passos para atravessar a rua e chegar ao ponto quando o ônibus passou. Olhou no relógio, o próximo ônibus viria dali há meia hora... Pensando ainda no que dizia seu horóscopo, tranquilizou pensando que certamente seu chefe entenderia seu atraso... Quando finalmente sentou-se no ponto a espera do outro ônibus, viu que alguém havia esquecido uma caixa de presentes. A caixa envolta em um papel  de uma beleza nunca vista antes por ele, um laço de fita dourada finalizava o lindo embrulho... Ele olhou para todos os lados, certificando-se de que ninguém o olhava, pegou a caixa e a colocou  sobre suas pernas. Lembrou-se do horóscopo e sorriu, pensando que sua sorte começara a dar as caras naquele dia.
O ônibus enfim chegou, ele entrou e sentou-se no banco próximo ao corredor com a caixa de presentes cuidadosamente instalada sobre suas pernas. Minutos depois, olhando três bancos a sua frente, viu uma loura linda; lembrou-se da alma gêmea e por esta razão sentiu seu coração disparar e seus olhos não conseguiram se desgrudar mais daquela mulher. Ela de vez enquanto o olhava e depois voltava-se para a janela onde sentava-se um senhor... O senhor deu uma virada para trás o encarando... Ele riu um risinho agradável, pensando ser aquele senhor o pai da tal loura. A loura olhava novamente, ele sorria faceiro e fazia trejeitos querendo conquistá-la... 
Chegando finalmente ao ponto onde deveria descer, deu sinal para que o motorista parasse o ônibus, encaminhou-se até a porta e antes de saltar deu uma piscadinha radiante para a loura.
Assim que deu alguns passos, já na rua, ouviu alguém que o chamava. Olhando para trás, para sua surpresa, viu que se tratava do suposto pai e da sua desejada loura. Radiante, lembrando-se do lido no jornal, aproximou-se de ambos... Sem que tivesse tempo de dizer qualquer coisa, recebeu um soco no nariz do suposto pai da loura que ainda o xingou de FDP, dizendo que fosse fazer gracinha para a mulher de outro...
Ele passou um lenço no nariz, que sangrava e entrou num banheiro público para lavar e tentar disfarçar o machucado nariz...
Olhou o relógio, estava quase uma hora atrasado, mas lembrando-se do horóscopo, ainda conseguiu sorrir; o nariz finalmente parara de sangrar, embora começasse a inchar... Sentindo-se refeito retornou seu caminho até o prédio onde trabalhava; subiu as escadas tranquilamente carregando a caixa encontrada no ponto de ônibus acreditando no que lera no seu horóscopo...
Quando entrou no local onde trabalhava o chefe olhou o relógio, fez uma cara de desaprovação e pediu que o acompanhasse . Ao entrem na sala, o chefe fechou a porta, dando-lhe uma bronca daquelas. Ele sem graça, temendo por seu emprego, lembrou-se da caixa de presente. Não sabia o que havia dentro, mas pela maneira como estava lindamente ornada, imaginava que conter a mesma, algo de valor... E recordando que a filha do chefe fazia aniversário naquele dia, e por coincidência  a mesma trabalhava também ali, lembrou-se novamente do horóscopo lido e fez as devidas ligações :
SURPRESA : Ter encontrado a caixa; 
ALMA GÊMEA :  Dando o presente para a filha do chefe a conquistaria, o que certamente faria o chefe lhe dar uma promoção.
Assim pensando, rapidamente, pedindo desculpas ao chefe pelo atraso, alegando ter se lembrado do aniversário da sua filha, disse-lhe que havia passado em uma loja para comprar uma lembrancinha para a mesma; o chefe, não amolecendo a bronca, mas vendo tão delicada caixa de presente, abriu a porta para que ele fosse, então, iniciar seus trabalhos do dia.
A filha do chefe entrou no escritório, ele a olhou sorrindo. Ela não fez nem um sinal de contentamento e encaminhou-se a sala do pai. 
Passado alguns minutos o chefe berrou seu nome, chamando-o imediatamente a sua sala. Ele ficou imaginando que o conteúdo da caixa devia ter surpreendido pai e filha. Assim pensando, ainda recordando do lido, entrou na sala do chefe... Suas narinas sentiram um cheiro terrivelmente forte de algo podre, mas...
O chefe, enquanto a filha tapava o nariz, sem dar muitas explicações, apenas apontando a caixa aberta à sua frente o despediu por justa causa... Antes de dar tempo para lembrar-se do que lera no jornal sobre seu horóscopo, ele olhou para dentro da caixa que encontrara no ponto e dera a filha do chefe; viu enojado, já quase vomitando, que ali dentro, sob tão delicado embrulho e laçarote, havia sido colocado três ratos já em avançado estado de putrefação...
Ele se retirou mas sem se abater com o ocorrido pois  acreditava no que lera e dizia seu horóscopo; se o horóscopo dizia que iria ter um dia de sorte é porque certamente  teria o tal dia de sorte... E sorrindo, distraidamente, acabou por tropeçar num pedra indo dar com a testa no meio fio.. ...desmaiou...
Luiz Dutra - outubro/2011

CONTO 0003 : TROCANDO EM GRAÚDOS.

A mulher abriu a porta, olhou a casa que, naquela noite, parecia ser maior do que realmente era...
A noite estava linda, céu estrelado, lua cheia... Ela viu tudo isto pela vidraça da janela da cozinha. abriu a geladeira para pegar os ingredientes e feliz, pôs-se a preparar o jantar surpresa. Havia lembrado da data no trabalho e considerou importante demais para deixar passar em branco e como ele não havia retornado do trabalho ainda, daria tempo para preparar tudo. Enquanto lembrava do quanto ele gostava do prato que estava preparando, também já ia tentando combinar o vinho que não poderia faltar. Abriu a pequena adega, olhou algumas garrafas e ficou  na dúvida entre o tinto e o branco; optando pelo tinto a separou.
Espiou-se no espelho colado à porta da geladeira, passou as mãos pelos cabelos deu de si para si mesma uma piscadinha feliz e sorrindo recomeçou os preparativos para o jantar... Parte do jantar já estando pronta, ajeitou  na tigela azul que havia sido dada pela mãe dele quando casaram.. Pegou na gaveta a toalha de renda branca com detalhes florais em azul, depois o castiçal, o vasinho  para dar o toque final e foi-se radiante até a mesa da sala de jantar. ajeitou, esticou a toalha pôs o castiçal, o vaso e dirigindo-se ao quintal, colheu um ramo florido de orquídea; optou pelo ramo da catleya rosa, cor do amor... ajeitou o ramo no vaso, centralizou na mesa e afastou-se para que tivesse uma visão melhor; nada poderia estar fora de lugar naquela noite tão especial. Sob a geladeira, o relógio marcava oito e meia passada... Deveria apressar-se pois ele já deveria estar chegando. Passou pela sala de estar, abaixou-se para escolher um CD que fosse especial, que marcasse aquela data; optou pela suave e doce de Sade Adu, a música selecionada e deixada pausada no aparelho, Clean Heart, era a que tocava quando se conheceram. Fechou os olhos e pensou nele, nos olhos brilhantes, na voz macia e terna e na sua calma maneira de ser e amar... E ainda pensando nele, subiu a escada que dava ao quarto. 
Quando colocou os pés no primeiro degrau, pareceu ter ouvido um risinho; pensou no casal de gatos de estimação e confundida imaginou ser miados e não risinho. Conforme ia subindo, os risinhos tornavam-se mais altos e menos iguais a miados de gatos... Ela parou, olhos arregalados... Mas lembrou-se do rádio do quarto; talvez tivesse esquecido ligado... e continuou a subir...
Já em frente a porta do quarto, os risinhos se tornaram mais altos e não de um rádio ligado, mas de homens que por ali estivessem...
Pensou em ladrão e assustada, empurrou a porta segurando um  dos sapatos nas mãos...
Quando a porta se abriu totalmente, não conseguiu acreditar no que seus olhos viram...
Seu marido, de calcinha, a rosa dela, a que ela tanto gostava, sentado no colo de seu único irmão que estava completamente nu...Eles se assustaram, ela, porém, nada disse e saiu fechando a porta.
Pouco depois viu os dois saírem de fininho pela porta da cozinha, enquanto ela,sentada no sofá, procurava no jornal os anúncios de garotos de programa...
Achando um que pareceu interessante, ligou marcando o encontro e rindo da cena vista, num misto de nem sabia o quê, encaminhou-se a cozinha, dizendo para si mesma em frente ao espelho:
- Tudo tão bonito, um jantar tão gostoso e ele me faz uma coisa dessa... retirou da mesa a garrafa de vinho que já não combinava mais com a noite e indo a adega, trocou pela garrafa de vinho branco...
Depois sentou-se a espera do outro ele...
Luiz Dutra - outubro/20