A mulher abriu a porta, olhou a casa que, naquela noite, parecia ser maior do que realmente era...
A noite estava linda, céu estrelado, lua cheia... Ela viu tudo isto pela vidraça da janela da cozinha. abriu a geladeira para pegar os ingredientes e feliz, pôs-se a preparar o jantar surpresa. Havia lembrado da data no trabalho e considerou importante demais para deixar passar em branco e como ele não havia retornado do trabalho ainda, daria tempo para preparar tudo. Enquanto lembrava do quanto ele gostava do prato que estava preparando, também já ia tentando combinar o vinho que não poderia faltar. Abriu a pequena adega, olhou algumas garrafas e ficou na dúvida entre o tinto e o branco; optando pelo tinto a separou.
Espiou-se no espelho colado à porta da geladeira, passou as mãos pelos cabelos deu de si para si mesma uma piscadinha feliz e sorrindo recomeçou os preparativos para o jantar... Parte do jantar já estando pronta, ajeitou na tigela azul que havia sido dada pela mãe dele quando casaram.. Pegou na gaveta a toalha de renda branca com detalhes florais em azul, depois o castiçal, o vasinho para dar o toque final e foi-se radiante até a mesa da sala de jantar. ajeitou, esticou a toalha pôs o castiçal, o vaso e dirigindo-se ao quintal, colheu um ramo florido de orquídea; optou pelo ramo da catleya rosa, cor do amor... ajeitou o ramo no vaso, centralizou na mesa e afastou-se para que tivesse uma visão melhor; nada poderia estar fora de lugar naquela noite tão especial. Sob a geladeira, o relógio marcava oito e meia passada... Deveria apressar-se pois ele já deveria estar chegando. Passou pela sala de estar, abaixou-se para escolher um CD que fosse especial, que marcasse aquela data; optou pela suave e doce de Sade Adu, a música selecionada e deixada pausada no aparelho, Clean Heart, era a que tocava quando se conheceram. Fechou os olhos e pensou nele, nos olhos brilhantes, na voz macia e terna e na sua calma maneira de ser e amar... E ainda pensando nele, subiu a escada que dava ao quarto.
Quando colocou os pés no primeiro degrau, pareceu ter ouvido um risinho; pensou no casal de gatos de estimação e confundida imaginou ser miados e não risinho. Conforme ia subindo, os risinhos tornavam-se mais altos e menos iguais a miados de gatos... Ela parou, olhos arregalados... Mas lembrou-se do rádio do quarto; talvez tivesse esquecido ligado... e continuou a subir...
Já em frente a porta do quarto, os risinhos se tornaram mais altos e não de um rádio ligado, mas de homens que por ali estivessem...
Pensou em ladrão e assustada, empurrou a porta segurando um dos sapatos nas mãos...
Quando a porta se abriu totalmente, não conseguiu acreditar no que seus olhos viram...
Seu marido, de calcinha, a rosa dela, a que ela tanto gostava, sentado no colo de seu único irmão que estava completamente nu...Eles se assustaram, ela, porém, nada disse e saiu fechando a porta.
Pouco depois viu os dois saírem de fininho pela porta da cozinha, enquanto ela,sentada no sofá, procurava no jornal os anúncios de garotos de programa...
Achando um que pareceu interessante, ligou marcando o encontro e rindo da cena vista, num misto de nem sabia o quê, encaminhou-se a cozinha, dizendo para si mesma em frente ao espelho:
- Tudo tão bonito, um jantar tão gostoso e ele me faz uma coisa dessa... retirou da mesa a garrafa de vinho que já não combinava mais com a noite e indo a adega, trocou pela garrafa de vinho branco...
Depois sentou-se a espera do outro ele...
Luiz Dutra - outubro/20
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