Invado meu passado,
passo à limpo o sujo espaço
e desfaço,
os passos que lá ficariam...
Com passos lentos,
medrosos e curtos,
adentro espaço longe,
longe do ontem,
de antes e de ainda antes do antes
dos ontens passados...
alguém chora estirado num canto escuro,
enquanto alguém ri,
outros gritam
e a vida por si me pinta de vermelho o nariz...
abro uma,
depois fecho a mesma porta
e volto assustado com a maçaneta nas mãos,
sem os olhos na face,
sem a língua na boca
e sem fazer uso da caixa pensante,
Abro as mãos,
esgaço o peito,
arranco e pico em pedaços,
minhas emoções,
meus sentimentos,
meu senso-existir
e as vontades de ver o sol lá fora
e deito tudo no saco de rever agora...
...depois de segurar por horas esse estranho objeto-coisas,
lanço o saco,
amarrado,
por cima do muro que me separa daquele lugar...
Ergo a cabeça,
finjo secar uma lágrima que não há
e volto à janela do dia de hoje...
...Alguns pássaros pousam na verdejante árvore do meu quintal-agora,
e porque nada sinto,
entendo que gosto de vê-los ali :
pousados tranquilos,
às vezes cantando,
noutros instantes apenas mirando meu hoje
e vez por outro adentrando a janela,
voando à minha volta...
...Apenas olho,
com meus-não-olhos
aquilo que serve apenas para ouvir,
mas não ouço,
apenas vejo!
Luiz Dutra - novembro/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário