A semente e sua trajetória de eternamente usar e crer na finalidade de seu existir
Então, após anos de espera, surgiram os primeiros sinais de florescimento e, conforme espera a velha árvore, viriam a seguir os frutos e posteriormente as sementes que dariam origem aos seus primeiros descendentes.
Movida da paciência adquirida pelos ventos do tempo e das chuvas do existir, a velha árvore deixava-se balançar e brilhar solitária sobre a velha e alta montanha.
As flores se abriram envolvendo o ar daquela solitária morada pelo ar. A velha árvore sorria com seus galhos a balançar; vivendo a experiência da expectativa.
Passados alguns dias, após vendavais e chuvas torrenciais, a velha árvore viu com tristeza que haviam permanecido apenas alguns frutos em formação. Mas ela bem sabia que nem todos chegariam ao final da etapa, e novamente sorriu esperançosa na descendência que logo viria.
Os frutos foram se desenvolvendo, até tornarem-se grandes e amadurecerem.
Ninguém nunca passara por ali antes, mas naquela tarde um grupo de desbravadores acabou por achar a velha árvore e seus frutos. Rapidamente, movidos pela fome e sede, subiram por seus galhos e apanharam sete dos oito frutos que na velha árvore havia.
Um deles permaneceu preso aos braços da velha árvore, talvez por ser o mais desengonçado, ou por ter algumas marcas do tempo registradas em sua carne...
O fruto olhava os homens que saboreavam seus irmãos, elogiando-os e agradecendo pelos mesmos, enquanto entristecia e murchava na sua inutilidade.
A velha árvore olhava para o que restara, não esperando nada dele, enquanto ele olhava para os galhos onde estava preso, depois girava seus olhos de pensamento a sua volta e pensava no que iria ser quando seu corpo podre caísse para longe da árvore...
Permaneceu assim pensando por muitos outros dias até que novamente a chuva e o vento do nada sugiram e o derrubaram. Ele então se esborrachou sobre as pedras que formavam o solo; pensou tanto, até que o tempo veio deixá-la seca sob aquele surgido sol até que não mais existiu lembrança sua; Uma das sementes férteis que havia em seu interior teimosamente esforçou-se a ponto de expor suas primeiras raízes. A semente olhou para a velha árvore, depois para as raízes e novamente começou a crer em dias melhores... Mas como nunca se podem prever, novamente as nuvens tornaram-se negras e logo começou a cair uma forte chuva; chuva esta que logo se transformou em cachoeira varrendo a montanha e levando o que encontrava. Nesta corredeira sem fim a pequena árvore foi arrastada, e enquanto rodava já tonta pelas águas tanta, pensou novamente em desistir e abandonou-se...
Quando abriu seus olhos de pensamento, percebeu que tudo havia mudado o sol já clareava tudo e que ela havia descido da velha montanha e agora se encontrava sobre uma terra mais fofa e melhor, acreditara, para fixar suas raízes. Assim, novamente decidiu erguer-se e permitiu que novas raízes nascessem; e eram tantas que iam surgindo e com tamanha rapidez iam adentrando o solo e verdejando suas folhas recém formadas e seu caule esgueirava-se rumo ao azul do céu que seu coração alegrou-se e acreditou que ser feliz e existir valeria à pena. Porem, quando alcançou certa altura, olhou com olhos de pensamento e viu que se encontrava à beira de um precipício. Milhões de lembranças, desde seu tempo de flor, lhe vieram à mente, mas ela não queria desistir nem pensar que agora que tudo parecia estar finalmente tranqüilo e em paz, algo viria para destruir sua alegria a duras penas construída. E passou a apenas viver aqueles dias lindos de sol, sentindo os primeiros pássaros que procuravam seus pequeninos galhos para se protegerem...
Novamente as nuvens tornaram-se negras, e rapidamente as chuvas fortes começaram a descer formando a já conhecida cachoeira que iam arrastando tudo que via a frente. A pequena árvore agarrava-se firmemente com suas raízes ao solo, enquanto a forte água varria suas raízes deixando-as expostas...
Sem ter mais o que fazer, relembrou ainda seu nascimento-flor, o tempo de ser fruto e sua luta até então e deu-se conta de que tudo fora em vão; fechou seus olhos de pensamento e abandonou-se...
A chuva arrancou sua última raiz presa ao solo e a jogou sobre pedras; e lá permaneceu esperando que o tempo se incumbisse de apagar tamanho erro cometido quando permitiu sua existência.
De repente ouviu uma voz ao seu lado, olhou com olhos de pensamento e viu uma semente que lhe dizia para acreditar, pois ela, a semente ao seu lado, acreditava que seria um dia uma árvore e ela, a pequena árvore, já assim era, bastava enviar toda a sua energia para as raízes e esta a obedecendo adentrariam no solo, embora pedregoso, e a fariam levantar-se novamente...
A pequena árvore apenas olhou tristemente a semente e nada disse, apenas fechou seus olhos de pensamento e iniciou seu processo de não mais acreditar e deixar-se ser apagada do mapa de existir...
E assim permaneceu por tantos anos, morta para si,
em si até que um estridente canto de alegria, vindo de um pássaro que parecia estar a quilômetros de distancia a acordou, obrigando-a a abrir seus pensamentos-galhos-olhos; não acreditou no que viu:
Seus galhos, embora tortos, estavam tão grandes e verdejantes, mil flores cobriam sua copa e pássaros iam e vinham carregando finos galhinhos com a finalidade de utilizar aquele espaço corpo seu para fazerem suas moradas. Ela riu por dentro e por fora, balançando seus galhos, espalhando um perfume de fé pelo ar...
O tempo fez e refez muitas voltas no invisível relógio enquanto à sua volta, próximo a seu tronco, começavam a brotar novas descendências; Embora ela não tivesse ainda a vontade de deixar de existir e nem se importasse com o futuro que, incerto ou certo, sempre fazia o que deveria fazer. Então ela creu que a vida é isso mesmo: Muitos desafios, muitas guerras, poucos sorrisos; Mas que pela estrada onde se espera existir deve ser sempre regada, adubada e iluminada pelo acreditar, nem sempre em si, nem sempre em algo superior, às vezes tão somente no “manter os olhos abertos e retos na estrada, nunca fechá-los nem desviá-los; pois se a estrada acabar-se, os olhos abertos saberão construir uma estrada nova sob o espaço sem fim do azul do céu... e quanto as raízes... bem, ela já não estava mais em primeiro lugar, afinal, querendo o espaço ter a árvore, deveria tratar de suprir e formá-las por si só; embora saíssem dela-a árvore.
Luiz Dutra, janeiro/2011.
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